quarta-feira, 17 de abril de 2013

1° Ficha de filosofia para o 6°ano


O MITO

1.    O que é o Mito?

O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo.
--Fernando Pessoa


O deus Thor dos vikings na Batalha contra os gigantes. Pintura de Mårten Eskil Winge (1872)

            Com certeza você já deve ter tido algum contato com a questão da mitologia, seja ela via livros, histórias em quadrinhos ou filmes. O mito é uma forma do ser humano se entender e então compreender o mundo, encontrando seu lugar entre os demais seres da natureza. Quando ainda não havia o método científico o mito era a maneira encontrada por nós, seres humanos, para dar conta dos nossos porquês.
            Dessa maneira, podemos definir o mito como um conjunto de modos fantásticos, miraculosos e não científicos, criados para explicar os fenômenos naturais (tempestades, secas, maremotos etc.), para explicar a construção cultural (a maneira como uma sociedade se formou), para explicar também a origem do mundo e do universo etc.
            É desse desejo humano de entender e compreender a natureza ao seu redor e dar-lhe sentido que o mito surge. Essa natureza que o cerca era misteriosa, cheia de coisas não explicadas e ao mesmo tempo, assustadoras pois, num momento o dia estava ensolarado e calmo e noutro, com chuvas e tempestades. Como explicar isso? Lembrando que a ciência da maneira como a conhecemos é algo relativamente recente, datando do séc. XVI. Antes do desenvolvimento e propagação da ciência moderna, os seres humanos se achavam a mercê das forças naturais. Hoje em dia, tendemos a interpretar a natureza como algo belo, como a praia, como uma floresta com bosques e animais silvestres, como uma fazenda no interior etc.
            Mas, para os povos antigos, a natureza como foi mencionado anteriormente, era fonte de mistérios e temores. Eles não olhavam para o mundo e a natureza de maneira a achá-los simplesmente matéria para estudos científicos mas, a percebiam como “impregnadas de qualidades boas ou más, amigas ou inimigas, familiares ou sobrenaturais, fascinantes e atraentes ou ameaçadoras e repelentes. Assim, o ser humano se move dentro de um mundo animado por forças que ele precisa agradar para que haja caça abundante, para que a terra seja fértil, para que a tribo ou grupo seja protegido, para que as crianças nasçam e os mortos possam ir em paz”. (ARANHA, M. L de Arruda, MARTINS, M. H. P. 2004, p. 63).
            E assim, podemos dizer que o pensamento mítico está bastante ligado à magia, ao desejo de que as coisas aconteçam de um modo determinado. É a partir daí que se desenvolvemos rituais enquanto maneiras de fazer com que a natureza fizesse o que queríamos que ela fizesse. “O ritual é o mito tornado ação” (idem).
            Temos numerosos registros de como esses rituais eram realizados. Nas cavernas de Lascaux e Altamira, o homem do paleolítico (há mais de 10 mil anos atrás) desenhava animais nas paredes das cavernas e depois os atacava com lanças e flechas  para garantir que a caçada fosse boa.
            Como não havia livros de história nem a ciência histórica, tal como a conhecemos hoje em dia, os povos antigos também usavam o mito como uma maneira de contar a história de sua comunidade, de seus antepassados, de maneira que não há comprovação científica nem registros exatos de que aquelas histórias narradas pelos mitos sejam verdadeiras pois, eram passadas de geração para geração, de pessoas mais velhas para pessoas mais novas.
            Na Grécia antiga, havia a figura do aedo, que era uma espécie de artista que saia de cidade em cidade narrando coisas que aconteceram na realidade, como a guerra de Tróia, por exemplo, de forma a misturar a realidade com ficção, misturar seres que existiram na realidade com seres puramente mitológicos, criados pela imaginação humana.
           
2.    As funções do mito

O ser humano sempre teve admiração pela natureza mas, também sempre desejou de alguma maneira dominá-la. Isso é atestado hoje em dia pela nossa ciência e foi atestado antigamente pelos rituais de caça dos homens do paleolítico. O mito tem algumas funções para nós tais como: 1) De acomodar e tranquilizar o ser humano diante do mundo que era assustador e cheio de criaturas fantásticas que comandavam a natureza. 2) Fazer com que tivéssemos algum domínio sobre a natureza, na forma de rituais (como os rituais de caça antigos, ou de sacrifícios para agradar aos deuses). 3) contar a história da formação do mundo, de uma comunidade ou dos antepassados de alguém, por exemplo, a Ilíada[1]. 4) A partir de personagens míticos, visava-se também educar as crianças e os jovens nos costumes de determinada sociedade.

Representação idealizada de Homero feita no Período Helenístico (323 a 146 a.c.).




O MITO DE PANDORA

Prometeu, deus cujo nome em grego significa "aquele que vê o futuro", doou aos homens o fogo e as técnicas para acendê-lo e mantê-lo. Zeus, o soberano dos deuses, se enfureceu com esse ato, porque o segredo do fogo deveria ser mantido entre os deuses. Por isso, ordenou a Hefesto [1], que criasse uma mulher que fosse perfeita, e que a apresentasse à assembléia dos deuses. Atena, a deusa da sabedoria e da guerra, vestiu essa mulher com uma roupa branquíssima e adornou-­lhe a cabeça com uma guirlanda de flores, montada sobre uma coroa de ouro. Hefesto a conduziu pessoalmente aos deuses, e todos ficaram admirados; cada um lhe deu um dom particular:
Atena lhe ensinou as artes que convêm ao seu sexo, como a arte de tecer;
Afrodite lhe deu o encanto, que despertaria o desejo dos homens;
As Cárites, deusas da beleza, e a deusa da persuasão ornaram seu pescoço com colares de ouro;
Hermes, o mensageiro dos deuses, lhe concedeu a capacidade de falar, juntamente com a arte de seduzir os corações por meio de discursos insinuantes.
Depois que todos os deuses lhe deram seus presentes, ela recebeu o nome de Pandora, que em grego quer dizer "todos os dons".
Finalmente, Zeus lhe entregou uma caixa bem fechada, e ordenou que ela a levasse como presente a Prometeu. Entretanto, ele não quis receber nem Pandora, nem a caixa, e recomendou a seu irmão, Epimeteu, que também não aceitasse nada vindo de Zeus. Epimeteu, cujo nome significa "aquele que reflete tarde demais", ficou encantado com a beleza de Pandora e a tomou como esposa.
A caixa de Pandora foi então aberta e de lá escaparam a Senilidade, a Insanidade, a Doença, a Inveja, a Paixão, o Vício, a Praga, a Fome e todos os outros males, que se espalharam pelo mundo e tomaram miserável a existência dos homens a partir de então. Epimeteu tentou fechá-la, mas só restou dentro a Esperança, uma criatura alada que estava preste a voar, mas que ficou aprisionada na caixa [...] e é graças a ela que os homens conseguem enfrentar todos os males e não desistem de viver.

FONTE: (CHALITA, Vivendo a filosofia, 2004, p.26).

Bibliografia:

ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de filosofia. 2. ed. rev. São Paulo: Editora Moderna, 2001
CHALITA, Gabriel. Vivendo a filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2004         
FEITOSA, Charles. Explicando a filosofia com arte. 2.ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2009


[1] Poema atribuído a Homero (séc. VIII antes de Cristo) onde se conta a história da guerra de Tróia tendo como protagonista,  Aquiles e seus feitos nesta guerra.

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