Origem
da filosofia através de um sentimento fundamental: Thaumazein
Como já se sabe, Filosofia
quer dizer “Amor ou Amizade à Sabedoria” e, portanto, ela envolve também
sentimentos. Ela envolve um sentimento que privilegia a razão e nos faz ir além
das aparências e nos guia em busca da verdade. O que move o filósofo é seu amor
à sabedoria porém, há outro sentimento envolvido com a filosofia e que marca
seu início: Thaumazein, uma palavra
grega e significa “estranhamento”, “perplexidade”, ou ainda, “espanto”. Podemos
dizer que Truman, Neo em Matrix e o Homem que saiu da caverna para contemplar o
mundo lá fora todos eles tiveram este sentimento fundamental. Este sentimento é
dito fundamental porque é ele que inicia a atitude filosófica e nos faz ver o
mundo de maneira diferenciada. Vejamos a definição dada a thaumazein pela
Wikipédia:
“Originalmente, todas as áreas que hoje
denominamos ciências faziam parte da Filosofia: expressão, no mundo grego, de
um conjunto de saber nascido em decorrência de uma atitude. E, de fato, tanto
Platão, no Fédon, quanto Aristóteles, na Metafísica, puseram na atitude
admirativa, no admirar tò thaumázein, e também no páthos ("um tipo de
afetação, que pode ser definido como um estranhamento"), o início da
Filosofia. "No Teeteto, Sócrates diz a Teodoro que o filósofo tem um
páthos, ou seja, um sentimento ou sensibilidade que lhe é própria: a capacidade
de admirar ou de se deixar afetar por
coisas ou acontecimentos que se dão à sua volta". O thaumázein, assim
como o páthos, têm a ver com "um bom ânimo ou boa disposição (...) que
levou certos indivíduos a deixar ocupações do cotidiano para se dedicar a algo
extraordinário, a produção do saber: uma atividade incomum, em geral pouco
lucrativa, e que nem sequer os tornava moralmente melhores que os outros."[1]
O sentimento “Thaumazein” nos conduz e nos
obriga a tomar uma postura acerca de nossas crenças e convicções: ou nós
simplesmente ignoramos o thaumazein ou nos apegamos e ele e passamos a ter a
atitude filosófica.
A
atitude filosófica[2]
Imaginemos, agora, alguém
que tomasse uma decisão muito estranha e começasse a fazer perguntas
inesperadas. Em vez de “que horas são?” ou “que dia é hoje?”, perguntasse: O
que é o tempo? Em vez de dizer “está sonhando” ou “ficou maluca”, quisesse
saber: O que é o sonho? A loucura? A razão? Se essa pessoa fosse substituindo
sucessivamente suas perguntas, suas afirmações por outras: “Onde há fumaça, há
fogo”, ou “não saia na chuva para não ficar resfriado”, por: O que é causa? O que
é efeito?; “seja objetivo ”, ou “eles são muito subjetivos”, por: O que é a
objetividade? O que é a subjetividade?; “Esta casa é mais bonita do que a
outra”, por: O que é “mais”? O que é “menos”? O que é o belo? Em vez de gritar
“mentiroso!”, questionasse: O que é a verdade? O que é o falso? O que é o erro?
O que é a mentira? Quando existe verdade e por quê? Quando existe ilusão e por
quê? Se, em vez de falar na subjetividade dos namorados, inquirisse: O que é o
amor? O que é o desejo? O que são os sentimentos? E se, em vez de afirmar que
gosta de alguém porque possui as mesmas idéias, os mesmos gostos, as mesmas
preferências e os mesmos valores, preferisse analisar: O que é um valor? O que
é um valor moral? O que é um valor artístico? O que é a moral? O que é a vontade?
O que é a liberdade? Alguém que tomasse essa decisão, estaria tomando distância
da vida cotidiana e de si mesmo, teria passado a indagar o que são as crenças e
os sentimentos que alimentam, silenciosamente, nossa existência.
Ao tomar essa distância,
estaria interrogando a si mesmo, desejando conhecer por que cremos no que
cremos, por que sentimos o que sentimos e o que são nossas crenças e nossos
sentimentos. Esse alguém estaria começando a adotar o que chamamos de atitude filosófica.
Assim, uma primeira
resposta à pergunta “O que é Filosofia?” poderia ser: A decisão de não aceitar
como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os
valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem
antes havê-los investigado e compreendido. Perguntaram, certa vez, a um
filósofo: “Para que Filosofia?”. E ele respondeu: “Para não darmos nossa
aceitação imediata às coisas, sem maiores considerações”.
O Pensador de Auguste Rodin.
Figura que representa o homem imerso em seus pensamentos.
|
A
atitude crítica
A primeira característica
da atitude filosófica é negativa, isto é, um dizer não ao senso comum, aos
pré-conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e às idéias da
experiência cotidiana, ao que “todo mundo
diz e pensa”, ao estabelecido. A segunda característica da atitude filosófica é
positiva, isto é, uma interrogação sobre o que são as coisas, as idéias, os
fatos, as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos. É também uma
interrogação sobre o porquê disso tudo e de nós, e uma interrogação sobre como
tudo isso é assim e não de outra maneira. O que é? Por que é? Como é? Essas são
as indagações fundamentais da atitude filosófica.
A face negativa e a face
positiva da atitude filosófica constituem o que chamamos de atitude crítica e
pensamento crítico. A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos
preconceitos do senso comum e, portanto, começa dizendo que não sabemos o que
imaginávamos saber; por isso, o patrono da Filosofia, o grego Sócrates,
afirmava que a primeira e fundamental verdade filosófica é dizer: “Sei que nada
sei”. Para o discípulo de Sócrates, o filósofo grego Platão, a Filosofia começa
com a admiração; já o discípulo de Platão, o filósofo Aristóteles, acreditava
que a Filosofia começa com o espanto. Admiração e espanto significam: tomamos
distância do nosso mundo costumeiro, através de nosso pensamento, olhando-o
como se nunca o tivéssemos visto antes, como se não tivéssemos tido família,
amigos, professores, livros e outros meios de comunicação que nos tivessem dito
o que o mundo é; como se estivéssemos acabando
de nascer para o mundo e para nós mesmos e precisássemos perguntar o que é, por
que é e como é o mundo, e precisássemos perguntar também o que somos, por que
somos e como somos.
Exercício de fixação
1)
Explique o que é
thaumazein.
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2)
Explique, de acordo
com o texto: o que vem a ser a atitude filosófica?
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3)
O que é filosofia,
de acordo com o texto?
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
4)
Quais são as
características da atitude filosófica?
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Referências bibliográficas
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia
Essa
ficha estará disponível no nosso blog: corujinhafilosofica.blogspot.com.br
[1]
http://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia_antiga <acessado em 12/04/2013>
[2]
O texto que reproduzo aqui se encontra no livro: Convite à Filosofia, de
Marilena Chauí, Unidade 1, capítulo 2
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