quinta-feira, 11 de abril de 2013

Ficha para o  6°ano ( Mito e Razão)


Do Mito ao Logos

Vamos recapitular, a partir da definição dada por Marilena Chauí, o conceito de Mito:

O que é um mito?

Um mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, da Terra, dos homens, das plantas, dos animais, do fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal, da saúde e da doença, da morte, dos instrumentos de trabalho, das raças, das guerras, do poder, etc.).
A palavra mito vem do grego, mythos, e deriva de dois verbos: do verbo mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para outros) e do verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). Para os gregos, mito é um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em público, baseada, portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do narrador. E essa autoridade vem do fato de que ele ou testemunhou diretamente o que está narrando ou recebeu a narrativa de quem testemunhou os acontecimentos narrados.
Quem narra o mito? O poeta-rapsodo (Aedo)[1] Quem é ele? Por que tem autoridade? Acredita-se que o poeta é um escolhido dos deuses, que lhe mostram os acontecimentos passados e permitem que ele veja a origem de todos os seres e de todas as coisas para que possa transmiti-la aos ouvintes. Sua palavra - o mito – é sagrada porque vem de uma revelação divina. O mito é, pois, incontestável e inquestionável.

Como o mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe?

Encontrando o pai e a mãe das coisas e dos seres, isto é, tudo o que existe decorre de relações amorosas entre forças divinas pessoais. Essas relações geram os demais deuses: os titãs (seres semi-humanos e semidivinos), os heróis (filhos de um deus com uma humana ou de uma deusa com um humano), os humanos, os metais, as plantas, os animais, as qualidades, como quente-frio, seco-úmido, claro-escuro, bom-mau, justo-injusto, belo-feio, certo-errado, etc. A narração da origem é, assim, uma genealogia, que é, narrativa da geração dos seres, das coisas, das qualidades, por outros seres, que são seus pais ou antepassados. Tomemos um exemplo da narrativa mítica: Observando que as pessoas apaixonadas estão sempre cheias de ansiedade e de plenitude, inventam mil expedientes para estar com a pessoa amada ou para seduzi-la e também serem amadas, o mito narra a origem do amor, isto é, o nascimento do deus Eros (que conhecemos mais com o nome de Cupido):  Houve uma grande festa entre os deuses. To dos foram convidados, menos a deusa Penúria, sempre miserável e faminta. Quando a festa acabou, Penúria veio, comeu os restos e dormiu com o deus Poros (o astuto engenhoso). Dessa relação, nasceu Eros (ou Cupido), que, como sua mãe, está sempre faminto, sedento e miserável, mas, como seu pai, tem mil astúcias para se satisfazer e se fazer amado. Por isso, quando Eros fere alguém com sua flecha, esse alguém se apaixona e logo se sente faminto e sedento de amor, inventa astúcias para ser amado e satisfeito, ficando ora maltrapilho e semimorto, ora rico e cheio de vida.
A mitologia exprimia na forma divina e celestial todo o conjunto de relações, seja dos homens entre si (no caso acima, o amor, e a guerra, como vimos no caso da guerra de Tróia) , seja entre o homem e a natureza (tomemos como o exemplo o mito que narra as quatro estações ou a fúria dos deuses refletida na natureza). Assim, os deuses são criadores do mundo. Do mesmo jeito que o rei era considerado o criador da ordem social os deuses eram os reguladores do ciclo da natureza. O mundo divino, as relações sociais e o ritmo da natureza confundiam-se, estando todos submetidos ao comando do rei e dos deuses.
Sem dúvida, as tradições e os mitos explicavam todas essas coisas, mas suas explicações já não satisfaziam aos que interrogavam sobre as causas da mudança, da permanência, da repetição, da desaparição e do ressurgimento de todos os seres. Haviam perdido força explicativa, não convenciam nem satisfaziam a quem desejava conhecer a verdade sobre o mundo.

Mas, porque o mito perde a sua força explicativa?

            Podemos enumerar alguns fatores que explicam o porquê do mito ter perdido seu poder explicativo:
·         Com o desenvolvimento do comércio marítimo, os gregos passaram a ter mais contato com outros povos diferentes e perceberam o quanto os mitos se diferenciavam um dos outros e permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por deuses, titãs e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres humanos; e que as regiões dos mares que os mitos diziam habitados por monstros e seres fabulosos não possuíam nem monstros nem seres fabulosos. As viagens produziram o desencantamento ou a desmistificação do mundo, que passou, assim, a exigir uma explicação sobre sua origem, explicação que o mito já não podia oferecer.
·         A invenção da política: os gregos começaram a se agregar em cidades e essas cidades deveriam ser governadas para que o povo tivesse suas necessidades atendidas. Na mitologia, acreditava-se que o poder dos governantes era divino. Porém, nessas cidades havia espaços públicos onde as pessoas poderiam debater suas ideias. Por isso, era preciso que a melhor ideia fosse analisada para o bem da população. E a melhor ideia deveria ser racional para que fizesse sentido para todos.


O surgimento da filosofia, ou seja, a maneira racional  para obter conhecimento.

A partir do século VI a.C., vemos todo um esforço para tentar explicar os fenômenos humanos e da natureza de maneira diferenciada, ou seja, a partir da maneira racional. A forma racional não precisa recorrer aos mitos para explicar os fenômenos  da natureza pois, ela os explica a partir da razão. O debate racional não precisa apelar para os sentimentos, somente para a lógica, que é algo que qualquer pessoa possui.
A forma racional de pensamento não se contenta com qualquer explicação, ela exige uma explicação universalmente válida, ou seja, a forma racional exige explicações às quais possam ser verdadeiras independentes do lugar e do tempo em que se encontram, pois, cada povo tinha a sua mitologia e, consequentemente, maneiras diferentes de explicar as coisas.

Quais seriam as principais diferenças entre a filosofia e o mito?

1.    O mito pretendia narrar, ou seja, contar a história de como as coisas eram ou tinham sido no passado bem, bem distante, longínquo e fabuloso, voltando-se para o que era antes que tudo existisse tal como existe no presente. A Filosofia, ao contrário, se preocupa explicar como e por que, no passado, no presente e no futuro (isto é, na totalidade do tempo), as coisas são como são;
2.    O mito narra a origem de todas as coisas e seres do mundo a partir de alianças ou rivalidade dos deuses e tudo o que acontecia na natureza era devido as vontades dos deuses. Já a filosofia busca a explicação a partir da natureza, através dos elementos da própria natureza, por exemplo, terra, fogo, água e ar.
3.    O mito não se preocupava em ser muito lógico, você com certeza deve ter visto como as vezes os mitos pareciam sem sentido algumas vezes. Já a filosofia se preocupa em ser muito lógica e com explicações claras e não confusas como eram as vezes, as explicações míticas.

1)    Defina Mito

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2)                O que vem a ser “genealogia”?

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3)    Explique o porquê do mito ter perdido sua força explicativa

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4)    Sobre o surgimento da filosofia podemos afirma corretamente que ela:

a)    Surge da necessidade do homem manter-se acreditando no mito
b)    Surge da necessidade de explicar os fenômenos da natureza e as relações humanas a partir da razão
c)    Surge por acaso pois, a explicação mítica era e ainda é suficiente para dar conta da realidade
d)    Nenhuma das respostas acima


5)    Cite resumidamente a principais diferenças entre a filosofia e o mito.

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Referências bibliográficas

CHAUÍ, Marilena. Convite a Filosofia


Indicação de vídeos:

(Telecurso 2000 – aula de filosofia – parte 1)
(Telecurso 2000 – aula de filosofia – parte 2)
Indicação de site:





[1] A definição de aedo se encontra 1° ficha de filosofia.

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