Do Mito ao Logos
Vamos
recapitular, a partir da definição dada por Marilena Chauí, o conceito de Mito:
O
que é um mito?
Um mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa
(origem dos astros, da Terra, dos homens, das plantas, dos animais, do fogo, da
água, dos ventos, do bem e do mal, da saúde e da doença, da morte, dos instrumentos
de trabalho, das raças, das guerras, do poder, etc.).
A palavra mito vem do grego, mythos, e deriva de dois
verbos: do verbo mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para outros) e do
verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). Para os gregos,
mito é um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem como
verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra; é uma narrativa feita
em público, baseada, portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do
narrador. E essa autoridade vem do fato de que ele ou testemunhou diretamente o
que está narrando ou recebeu a narrativa de quem testemunhou os acontecimentos narrados.
Quem narra o mito? O poeta-rapsodo (Aedo)[1] Quem
é ele? Por que tem autoridade? Acredita-se que o poeta é um escolhido dos
deuses, que lhe mostram os acontecimentos passados e permitem que ele veja a origem
de todos os seres e de todas as coisas para que possa transmiti-la aos
ouvintes. Sua palavra - o mito – é sagrada porque vem de uma revelação divina.
O mito é, pois, incontestável e inquestionável.
Como o mito narra a origem do mundo
e de tudo o que nele existe?
Encontrando o pai e a mãe das coisas e dos seres, isto
é, tudo o que existe decorre de relações amorosas entre forças divinas
pessoais. Essas relações geram os demais deuses: os titãs (seres semi-humanos e
semidivinos), os heróis (filhos de um deus com uma humana ou de uma deusa com
um humano), os humanos, os metais, as plantas, os animais, as qualidades, como
quente-frio, seco-úmido, claro-escuro, bom-mau, justo-injusto, belo-feio,
certo-errado, etc. A narração da origem é, assim, uma genealogia, que é, narrativa da geração dos seres, das coisas, das
qualidades, por outros seres, que são seus pais ou antepassados. Tomemos um
exemplo da narrativa mítica: Observando que as pessoas apaixonadas estão sempre
cheias de ansiedade e de plenitude, inventam mil expedientes para estar com a pessoa
amada ou para seduzi-la e também serem amadas, o mito narra a origem do amor,
isto é, o nascimento do deus Eros (que conhecemos mais com o nome de Cupido): Houve uma grande festa entre os deuses. To
dos foram convidados, menos a deusa Penúria, sempre miserável e faminta. Quando
a festa acabou, Penúria veio, comeu os restos e dormiu com o deus Poros (o
astuto engenhoso). Dessa relação, nasceu Eros (ou Cupido), que, como sua mãe,
está sempre faminto, sedento e miserável, mas, como seu pai, tem mil astúcias
para se satisfazer e se fazer amado. Por isso, quando Eros fere alguém com sua flecha,
esse alguém se apaixona e logo se sente faminto e sedento de amor, inventa
astúcias para ser amado e satisfeito, ficando ora maltrapilho e semimorto, ora
rico e cheio de vida.
A mitologia exprimia na forma divina e celestial todo o
conjunto de relações, seja dos homens entre si (no caso acima, o amor, e a
guerra, como vimos no caso da guerra de Tróia) , seja entre o homem e a
natureza (tomemos como o exemplo o mito que narra as quatro estações ou a fúria
dos deuses refletida na natureza). Assim, os deuses são criadores do mundo. Do
mesmo jeito que o rei era considerado o criador da ordem social os deuses eram
os reguladores do ciclo da natureza. O mundo divino, as relações sociais e
o ritmo da natureza confundiam-se, estando todos submetidos ao comando do rei e
dos deuses.
Sem dúvida, as tradições e os mitos explicavam todas
essas coisas, mas suas explicações já não satisfaziam aos que interrogavam
sobre as causas da mudança, da permanência, da repetição, da desaparição e do
ressurgimento de todos os seres. Haviam perdido força explicativa, não
convenciam nem satisfaziam a quem desejava conhecer a verdade sobre o mundo.
Mas, porque o mito perde a sua força
explicativa?
Podemos enumerar alguns fatores que
explicam o porquê do mito ter perdido seu poder explicativo:
·
Com o desenvolvimento do comércio
marítimo, os gregos passaram a ter mais contato com outros povos diferentes e
perceberam o quanto os mitos se diferenciavam um dos outros e permitiram aos
gregos descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por deuses, titãs
e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres humanos; e que as regiões
dos mares que os mitos diziam habitados por monstros e seres fabulosos não
possuíam nem monstros nem seres fabulosos. As viagens produziram o
desencantamento ou a desmistificação do mundo, que passou, assim, a exigir uma
explicação sobre sua origem, explicação que o mito já não podia oferecer.
·
A
invenção da política: os gregos começaram a se agregar em
cidades e essas cidades deveriam ser governadas para que o povo tivesse suas
necessidades atendidas. Na mitologia, acreditava-se que o poder dos governantes
era divino. Porém, nessas cidades havia espaços públicos onde as pessoas
poderiam debater suas ideias. Por isso, era preciso que a melhor ideia fosse
analisada para o bem da população. E a melhor ideia deveria ser racional para que fizesse sentido para
todos.
O surgimento da filosofia, ou seja, a
maneira racional para obter conhecimento.
A partir do século VI a.C., vemos todo um esforço para
tentar explicar os fenômenos humanos e da natureza de maneira diferenciada, ou
seja, a partir da maneira racional. A forma racional não precisa recorrer aos
mitos para explicar os fenômenos da
natureza pois, ela os explica a partir da razão. O debate racional não precisa
apelar para os sentimentos, somente para a lógica, que é algo que qualquer
pessoa possui.
A forma racional de pensamento não se contenta com
qualquer explicação, ela exige uma explicação universalmente válida, ou seja, a forma racional exige explicações
às quais possam ser verdadeiras independentes do lugar e do tempo em que se
encontram, pois, cada povo tinha a sua mitologia e, consequentemente, maneiras
diferentes de explicar as coisas.
Quais seriam as principais
diferenças entre a filosofia e o mito?
1. O
mito pretendia narrar, ou seja,
contar a história de como as coisas eram ou tinham sido no passado bem, bem
distante, longínquo e fabuloso, voltando-se para o que era antes que tudo existisse
tal como existe no presente. A Filosofia, ao contrário, se preocupa explicar
como e por que, no passado, no presente e no futuro (isto é, na totalidade do
tempo), as coisas são como são;
2. O
mito narra a origem de todas as coisas e seres do mundo a partir de alianças ou
rivalidade dos deuses e tudo o que acontecia na natureza era devido as vontades
dos deuses. Já a filosofia busca a explicação a partir da natureza, através dos
elementos da própria natureza, por exemplo, terra, fogo, água e ar.
3. O
mito não se preocupava em ser muito lógico, você com certeza deve ter visto
como as vezes os mitos pareciam sem sentido algumas vezes. Já a filosofia se
preocupa em ser muito lógica e com explicações claras e não confusas como eram
as vezes, as explicações míticas.
1) Defina
Mito
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2) O que vem a ser “genealogia”?
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3) Explique
o porquê do mito ter perdido sua força explicativa
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4) Sobre
o surgimento da filosofia podemos afirma corretamente que ela:
a) Surge
da necessidade do homem manter-se acreditando no mito
b) Surge
da necessidade de explicar os fenômenos da natureza e as relações humanas a
partir da razão
c) Surge
por acaso pois, a explicação mítica era e ainda é suficiente para dar conta da
realidade
d) Nenhuma
das respostas acima
5) Cite
resumidamente a principais diferenças entre a filosofia e o mito.
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Referências
bibliográficas
CHAUÍ,
Marilena. Convite a Filosofia
Indicação
de vídeos:
http://www.youtube.com/watch?v=RduymH6dWHs
(mitos e Filosofia)
(Telecurso
2000 – aula de filosofia – parte 1)
(Telecurso 2000 – aula de
filosofia – parte 2)
Indicação de site:
http://www.brasilescola.com/filosofia/mito-filosofia.htm
(o mito e a filosofia)
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