domingo, 7 de abril de 2013

Inauguração do Blog e Ficha para o 7°ano

Olá, meus filósofos!

Este blog se destina as nossas turmas de filosofia do 6° e 7° ano. Ele foi criado para que possamos levar a filosofia que aprendemos em sala de aula, para o espaço virtual também! A vantagem maior é que por aqui poderemos compartilhar links com músicas e vídeos.
Como primeira postagem, disponibilizarei uma ficha para os 7° anos.

O que é o Real?

“A questão mais fundamental da filosofia interroga o sentido do real. Como saber se estamos sonhando ou acordados? O que garante a veracidade das coisas que vemos? O que é e como é a realidade”?

Podemos ver, segundo a citação acima, que a tarefa principal da filosofia é tentar compreender aquilo que nós todos chamamos de realidade. Pode parecer bastante sem sentido esta pergunta: “o que é o real”? Alguém pode ficar chateado, sem entender a pergunta e responder: “a realidade é aquilo que vemos todos os dias na rua, o que vemos acontecer no mundo através das notícias dos jornais”. Mas, não foi bem assim que os filósofos durante a história entenderam o que seria a realidade. De fato, se nós simplesmente aceitássemos a realidade da maneira como ela se apresenta a nós, podemos dizer que não haveria filosofia e consequentemente, não haveria também ciência pois, filósofos e cientistas durante a história do pensamento, tentaram explicar o que seria a realidade de fato. Por isso não seria exagerado afirmar que o questionamento sobre o que é a realidade gerou praticamente todo o conhecimento que temos nas mais diversas áreas do saber. Leia abaixo a letra da música “O conto do sábio chinês” de Raul Seixas:

Era uma vez
Um sábio chinês
Que um dia sonhou
Que era uma borboleta
Voando nos campos
Pousando nas flores
Vivendo assim
Um lindo sonho...

Até que um dia acordou
E pro resto da vida
Uma dúvida
Lhe acompanhou...

Se ele era
Um sábio chinês
Que sonhou
Que era uma borboleta
Ou se era uma borboleta
Sonhando que era
Um sábio chinês





Analisando a letra, vemos a história de um sábio chinês que se sentiu extremamente incomodado com o sonho que teve pois, depois de acordar dele, não sabia mais quem ele era na realidade. Essa dúvida que o incomodava e que povoou o seu pensamento durante toda a vida o fez pensar mais e essa postura pode ser descrita como o espírito crítico ou filosófico que todos temos dentro de nós e o filósofo é justamente aquele indivíduo que se dedica a esse espírito crítico. Num primeiro momento, o filósofo, assim como o sábio chinês, não tem muita certeza sobre o que é a realidade e chega a duvidar que ela seja da maneira como a percebemos. Devido a isto, ele se vê na situação de alguém que por não ter certeza (quem duvida é por que não tem certeza), acaba por chegar a constatação de que verdadeiramente não sabe o que é a realidade, justamente por isso, o filósofo grego Sócrates proferiu a célebre frase “só sei que nada sei”. O filósofo, por isso, se torna tal qual uma criança que por não saber ainda bem das coisas, vai em busca do conhecimento.
Geralmente na infância, gostamos de questionar e perguntar sobre tudo. Quem tem um irmão ainda criança vê claramente como isso acontece. A criança fica admirada com o mundo que lhe cerca e tenta entender como aquilo acontece pois, não sabendo como as coisas funcionam e como é a realidade, pergunta sobre tudo. Quem já assistiu programa infantil “Castelo Rá-Tim-Bum”  se deparou com um personagem chamado Zequinha que vive sempre a perguntar o porquê de tudo. Zequinha não se contenta com as explicações dadas a ele sobre as mais diversas perguntas que ele faz sobre o que são as coisas. Ele resume bem a postura do filósofo com relação ao mundo que o cerca: um indivíduo que muitas vezes se questiona, buscando uma ideia verdadeira sobre a realidade.
Com o passar do tempo e com nosso crescimento, vamos progressivamente aprendendo diversas coisas que se destinam a explicar os mecanismos de funcionamento do mundo. Mas, será que devemos nos contentar com a explicação que nos é dada ou, antes, seria mais interessante adotar a postura crítica e investigar melhor sobre aquilo que nos é passado como real e verdadeiro? Essa resposta somente você pode dar. No fim das contas, todos carregam em si o poder de filosofar, pois, todos nós podemos ser críticos e adotar a postura filosófica.
Essas posturas podem ser divididas em dois grandes grupos de pensamento: O Realismo e o Relativismo. Vamos, através de uma adaptação do texto retirado do livro: “Explicando Filosofia com Arte” tentar definir estes grupos.

1.    O Realismo

O realismo supõe que a realidade é aquilo que está diante de nossos olhos e é objetiva, concreta e independente das interpretações humanas ou ainda do contexto histórico ou social em que se vive. A lei da gravidade, por exemplo, é sempre a mesma, deve valer tanto no Brasil como no Japão, tanto no século V a.C. como no século XXI. Na postura realista, as coisas tem autonomia, subsistem em si e por si. Se algum dia a humanidade fosse erradicada da face da terra através de uma guerra ou de uma catástrofe, o mundo cultural (arte, religiões, política) poderia também desaparecer, mas o mundo objetivo (pedras, árvores ou prédios) continuaria lá, do mesmo jeito que  já estava antes do aparecimento do homem. A explosão de uma estrela a bilhões de quilômetros da terra é um fato, mesmo que nenhum ser humano jamais tenha acesso a ele. Resumindo, no realismo tentamos adequar nosso pensamento a realidade como ela nos aparece, sem questionar se ela é verdadeira ou falsa.





Do ponto de vista do realismo, uma pintura pode ser considerada imperfeita se não reproduz adequadamente as formas e proporções de seu objeto. O quadro O vale de Lackwanna (1885), de Georges Innes (1824-1895).



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O Relativismo

A outra possibilidade de responder a pergunta pelo real pode ser chamada de “relativismo” e supõe que não existe uma realidade única e acabada, mas questiona se o nosso conceito de realidade deve ser tal qual o realismo coloca. A postura relativista interpreta que há várias maneiras de se compreender o que é a realidade. A realidade dependerá agora da interpretação que cada um terá sobre ela. “Não existem fatos, só interpretações”, diz o filósofo Nietzsche.
O relativismo acredita também que só haverá mundo se também existirem  seres capazes de compreendê-lo. Se uma estrela explodisse a um bilhão de quilômetros da terra e a luz de sua explosão nunca chegasse a nós, então é como se essa explosão nunca tivesse acontecido.
 

A imagem acima consegue resumir bem o que nós podemos entender por relativismo. Na figura abaixo podemos identificar o rosto de uma mulher ou um homem tocando saxofone. Dependendo do modo como olhamos para a imagem, podemos dizer do que se trata pois, no relativismo, cada pessoa pode construir um conceito, ideia de realidade a partir do seu ponto de vista.

Resumindo, o relativismo acredita que o conceito de realidade depende de nossa interpretação, ou seja, da maneira como vemos as coisas no mundo e essa postura nos leva a questionar se o mundo é realmente da maneira realista, que acredita que as coisas não dependem da nossa interpretação.


3.    Realismo e Relativismo: Vantagens e Desvantagens

Vimos que o relativismo e o realismo são as duas teorias fundamentais sobre a realidade. Ambas tem suas vantagens e desvantagens. Vejamos agora que vantagens e desvantagens são essas.
Vantagens: No realismo temos a vantagem de ficarmos tranquilos e simplesmente não precisar ficar pensando sobre se a realidade é verdadeira ou falsa. Podemos sempre contar com a ideia de que a realidade é algo que não depende da minha opinião, ela simplesmente existe do jeito que é.
Desvantagens: A grande desvantagem do realismo é que muitas pessoas não questionam sobre a realidade do mundo em que vivem, e por pensarem assim, fazem o filósofo que existe dentro de nós dormir, pois, se podem existir interpretações diferentes sobre o mundo, pode ser que algumas delas estejam erradas
Agora, falaremos sobre as vantagens e desvantagens do relativismo:

Vantagens: Podemos a partir das várias interpretações do que seja a realidade, pensar sobre elas ter nossa opinião melhor formada.
Desvantagens: Se ficássemos presos a postura relativista, que diz que tudo só depende da nossa interpretação, do nosso modo de ver as coisas, não teríamos nem filosofia nem ciência. Ficaríamos sempre dizendo que as coisas podem não ser reais e pararíamos por aí.
            Você pode estar se perguntando: “e agora, que pensamento eu devo seguir, o realismo ou o relativismo”?
            Podemos responder dizendo que o relativismo serve para que a gente não fique preso a somente uma ideia de realidade, tal como Truman do filme “O Show de Truman” e o personagem do mito da caverna de Platão tiveram ANTES de assumir a postura crítica e desconfiar de que a realidade pudesse ser diferente. O relativismo deve ser o Primeiro momento da atitude filosófica pois percebendo que a realidade pode ter várias interpretações, tentaremos encontrar uma que seja mais verdadeira.

 Para exemplificar melhor aquilo que nós tratamos acima, façamos uma análise, a partir do resumo dos filmes “O show de Truman” e do “Mito da Caverna” da Platão que foi estudado por você no 6° ano.

Resumo do Filme o Show de Truman:

            Um homem (Truman Burbank) tem sua vida inteira filmada e transmitida ao vivo pela TV, 24 horas por dia via satélite para todo o mundo, desde o seu nascimento. O filme começa a partir do episódio 10.909 desde o lançamento do Show. É o 30º ano ininterrupto (sem interrupções) de transmissão do "show" da vida de Truman Burbank como a primeira experiência de um "show real", pois Truman desconhece ser um personagem. Truman faz o “papel” de um corretor de seguros, é casado, e possui um amigo de infância, que sempre chega a sua casa com cervejas. Todos os dias cumprimenta seus vizinhos, da mesma forma, vai ao jornaleiro comprar revistas para sua mulher, encontra dois senhores que sempre prometem procurá-lo na seguradora.
Tudo acontece num grande estúdio, na verdade o maior estúdio cinematográfico do mundo, que ao lado da Muralha da China é a única construção humana visível do espaço, é uma ilha chamada Seahaven: as casas, as ruas, os automóveis, o céu, o mar, a lua, o anoitecer, e a chuva, tudo se passa dentro de uma enorme cúpula, mas Truman não conhece esses limites: ele nunca viajou, nunca saiu de sua cidade, nunca ultrapassou suas margens. Cerca de 5 mil câmeras, filmam cada movimento de Truman, milhares de pessoas trabalham dia e noite para que o show funcione com total verossimilhança com a realidade. É um mundo dentro de outro mundo. O criador do programa é Christof. O programa é transmitido sem nenhuma interrupção, nem mesmo intervalo publicitário. A publicidade é feita de maneira diferente, explica Christof em uma das poucas entrevistas que concede que “tudo está à venda” o que os atores comem, roupas, até mesmo as casas em que vivem.

O entrevistador continua a entrevista com Christof e pergunta “por que Truman nunca pensou até agora em questionar a natureza do mundo em que vive?” Christof reponde dizendo que “aceitamos a realidade do mundo tal qual ela nos é apresentada, Truman pode ir embora quando quiser. Se tivesse algo mais que uma mínima ambição, se estivesse absolutamente decidido a descobrir a verdade, não poderíamos impedi-lo. Truman prefere a sua cela. O Show de Truman é uma variação muito interessante do Mito da Caverna de Platão, mas difere da alegoria de Platão em que apenas um prisioneiro se liberta para abandonar as sombras da caverna e conhecer o mundo real, no filme há apenas um prisioneiro, e os demais atores que entram e saem dela.
Para refrescar nossa memória, vejamos um resumo do “Mito da Caverna de Platão”.

Resumo do “Mito da Caverna”

O mito fala sobre prisioneiros que desde o nascimento que vivem presos em correntes numa caverna e que passam todo tempo olhando para a parede do fundo que é iluminada pela luz gerada por uma fogueira. Nesta parede são projetadas sombras de estátuas representando pessoas, animais, plantas e objetos, mostrando cenas e situações do dia-a-dia. Os prisioneiros ficam dando nomes às imagens (sombras), analisando e julgando as situações.

Vamos imaginar que um dos prisioneiros fosse forçado a sair das correntes para poder explorar o interior da caverna e o mundo externo. Entraria em contato com a realidade e perceberia que passou a vida toda analisando e julgando apenas imagens projetadas por estátuas. Ao sair da caverna e entrar em contato com o mundo real ficaria encantado com os seres de verdade, com a natureza, com os animais e etc. Voltaria para a caverna para passar todo conhecimento adquirido fora da caverna para seus colegas ainda presos. Porém, seria ridicularizado ao contar tudo o que viu e sentiu, pois seus colegas só conseguem acreditar na realidade que enxergam na parede iluminada da caverna. Os prisioneiros vão o chamar de louco, ameaçando-o de morte caso não pare de falar daquelas ideias consideradas absurdas.

O que Platão quis dizer com o mito?

Os seres humanos tem uma visão distorcida da realidade. No mito, os prisioneiros somos nós que enxergamos e acreditamos apenas em imagens criadas pelas novelas, conceitos e informações que recebemos durante a vida sem pensar sobre o que é a realidade de fato. A caverna simboliza o mundo, pois nos apresenta imagens que não representam a realidade. Só é possível conhecer a realidade, quando nos libertamos destas influências culturais e sociais, ou seja, quando saímos da caverna.
A fala do diretor do Show de Truman, Christof, está de acordo com a ideia do Mito da Caverna: poucos são os inclinados a distinguir entre o mundo das aparências e o mundo das realidades autênticas e poucos são os que se perguntam se vivem uma espécie de jogo de fantoches. Podemos imaginar, que se Platão visse o filme ele diria que Truman deixando de considerar como reais as sombras que passam na parede (ou seja, o mundo de mentirinha que ele vive) e tivesse podido descobrir os objetos que produzem estas sombras, teria saído da caverna e ido em direção da verdade.
Voltando ao assunto Realismo e Relativismo, podemos dizer que Truman e o homem que saiu da caverna, representam o filósofo que, num primeiro momento abandonam aquela postura realista ingênua (que acredita em tudo o que está ao seu redor) para, abraçar a postura relativista por um momento, analisar e as diferentes interpretações  e tentar ir além daquilo que é passado pelo realismo para encontrar uma realidade que seja mais verdadeira.




Bibliografia

FEITOSA, Charles. Explicando a filosofia com arte. 2.ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2009
(Resumo sobre o Show de Truman)

Indicação de Música:
Metamorfose Ambulante de Raul Seixas
Indicação de obras de arte: As pinturas de M.C. Escher

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