Este blog se destina as nossas turmas de filosofia do 6° e 7° ano. Ele foi criado para que possamos levar a filosofia que aprendemos em sala de aula, para o espaço virtual também! A vantagem maior é que por aqui poderemos compartilhar links com músicas e vídeos.
Como primeira postagem, disponibilizarei uma ficha para os 7° anos.
O que é o Real?
“A
questão mais fundamental da filosofia interroga o sentido do real. Como saber
se estamos sonhando ou acordados? O que garante a veracidade das coisas que
vemos? O que é e como é a realidade”?
Podemos ver, segundo a citação acima, que a tarefa
principal da filosofia é tentar compreender aquilo que nós todos chamamos de
realidade. Pode parecer bastante sem sentido esta pergunta: “o que é o real”? Alguém
pode ficar chateado, sem entender a pergunta e responder: “a realidade é aquilo
que vemos todos os dias na rua, o que vemos acontecer no mundo através das
notícias dos jornais”. Mas, não foi bem assim que os filósofos durante a história
entenderam o que seria a realidade. De fato, se nós simplesmente aceitássemos a
realidade da maneira como ela se apresenta a nós, podemos dizer que não haveria
filosofia e consequentemente, não haveria também ciência pois, filósofos e
cientistas durante a história do pensamento, tentaram explicar o que seria a
realidade de fato. Por isso não seria exagerado afirmar que o questionamento
sobre o que é a realidade gerou praticamente todo o conhecimento que temos nas
mais diversas áreas do saber. Leia abaixo a letra da música “O conto do sábio
chinês” de Raul Seixas:
Era
uma vez
Um
sábio chinês
Que
um dia sonhou
Que
era uma borboleta
Voando
nos campos
Pousando
nas flores
Vivendo
assim
Um
lindo sonho...
Até
que um dia acordou
E
pro resto da vida
Uma
dúvida
Lhe
acompanhou...
Se
ele era
Um
sábio chinês
Que
sonhou
Que
era uma borboleta
Ou
se era uma borboleta
Sonhando
que era
Um
sábio chinês
Analisando
a letra, vemos a história de um sábio chinês que se sentiu extremamente
incomodado com o sonho que teve pois, depois de acordar dele, não sabia mais
quem ele era na realidade. Essa dúvida que o incomodava e que povoou o seu pensamento
durante toda a vida o fez pensar mais e essa postura pode ser descrita como o espírito crítico ou filosófico que
todos temos dentro de nós e o filósofo é
justamente aquele indivíduo que se dedica a esse espírito crítico. Num
primeiro momento, o filósofo, assim como o sábio chinês, não tem muita certeza
sobre o que é a realidade e chega a duvidar que ela seja da maneira como a
percebemos. Devido a isto, ele se vê na situação de alguém que por não ter
certeza (quem duvida é por que não tem certeza), acaba por chegar a constatação
de que verdadeiramente não sabe o que é a realidade, justamente por isso, o
filósofo grego Sócrates proferiu a célebre frase “só sei que nada sei”. O
filósofo, por isso, se torna tal qual uma criança que por não saber ainda bem
das coisas, vai em busca do conhecimento.
Geralmente na infância, gostamos de questionar e
perguntar sobre tudo. Quem tem um irmão ainda criança vê claramente como isso
acontece. A criança fica admirada com o mundo que lhe cerca e tenta entender
como aquilo acontece pois, não sabendo como as coisas funcionam e como é a
realidade, pergunta sobre tudo. Quem já assistiu programa infantil “Castelo
Rá-Tim-Bum” se deparou com um personagem
chamado Zequinha que vive sempre a perguntar o porquê de tudo. Zequinha não se
contenta com as explicações dadas a ele sobre as mais diversas perguntas que
ele faz sobre o que são as coisas. Ele resume bem a postura do filósofo com
relação ao mundo que o cerca: um indivíduo que muitas vezes se questiona,
buscando uma ideia verdadeira sobre a realidade.
Com o passar do tempo e com nosso crescimento, vamos
progressivamente aprendendo diversas coisas que se destinam a explicar os
mecanismos de funcionamento do mundo. Mas, será que devemos nos contentar com a
explicação que nos é dada ou, antes, seria mais interessante adotar a postura
crítica e investigar melhor sobre aquilo que nos é passado como real e
verdadeiro? Essa resposta somente você pode dar. No fim das contas, todos
carregam em si o poder de filosofar, pois, todos nós podemos ser críticos e
adotar a postura filosófica.
Essas posturas podem ser divididas em dois grandes
grupos de pensamento: O Realismo e o
Relativismo. Vamos, através de uma adaptação do texto retirado do livro:
“Explicando Filosofia com Arte” tentar definir estes grupos.
1. O Realismo
O realismo supõe que a realidade é aquilo que está
diante de nossos olhos e é objetiva,
concreta e independente das interpretações humanas ou ainda do contexto
histórico ou social em que se vive. A lei da gravidade, por exemplo, é
sempre a mesma, deve valer tanto no Brasil como no Japão, tanto no século V
a.C. como no século XXI. Na postura realista, as coisas tem autonomia,
subsistem em si e por si. Se algum dia a humanidade fosse erradicada da face da
terra através de uma guerra ou de uma catástrofe, o mundo cultural (arte,
religiões, política) poderia também desaparecer, mas o mundo objetivo (pedras,
árvores ou prédios) continuaria lá, do mesmo jeito que já estava antes do aparecimento do homem. A
explosão de uma estrela a bilhões de quilômetros da terra é um fato, mesmo que
nenhum ser humano jamais tenha acesso a ele. Resumindo, no realismo tentamos adequar nosso pensamento a realidade
como ela nos aparece, sem questionar se ela é verdadeira ou falsa.
Do
ponto de vista do realismo, uma pintura pode ser considerada imperfeita se
não reproduz adequadamente as formas e proporções de seu objeto. O quadro O vale de Lackwanna (1885), de Georges
Innes (1824-1895).
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.
O Relativismo
A outra possibilidade de responder a pergunta pelo real
pode ser chamada de “relativismo” e supõe que não existe uma realidade única e
acabada, mas questiona se o nosso conceito de realidade deve ser tal qual o
realismo coloca. A postura relativista interpreta que há várias maneiras de se
compreender o que é a realidade. A realidade dependerá agora da interpretação
que cada um terá sobre ela. “Não existem fatos, só interpretações”, diz o
filósofo Nietzsche.
O relativismo acredita também que só haverá mundo se
também existirem seres capazes de
compreendê-lo. Se uma estrela explodisse a um bilhão de quilômetros da terra e
a luz de sua explosão nunca chegasse a nós, então é como se essa explosão nunca
tivesse acontecido.
A imagem acima consegue resumir bem o que nós podemos
entender por relativismo. Na figura abaixo podemos identificar o rosto de uma
mulher ou um homem tocando saxofone. Dependendo do modo como olhamos para a
imagem, podemos dizer do que se trata pois, no relativismo, cada pessoa pode
construir um conceito, ideia de realidade a partir do seu ponto de vista.
Resumindo, o
relativismo acredita que o conceito de realidade depende de nossa
interpretação, ou seja, da maneira como vemos as coisas no mundo e essa postura
nos leva a questionar se o mundo é realmente da maneira realista, que acredita
que as coisas não dependem da nossa interpretação.
3. Realismo e Relativismo: Vantagens e
Desvantagens
Vimos que o relativismo e o realismo são as duas
teorias fundamentais sobre a realidade. Ambas tem suas vantagens e
desvantagens. Vejamos agora que vantagens e desvantagens são essas.
Vantagens: No
realismo temos a vantagem de ficarmos tranquilos e simplesmente não precisar
ficar pensando sobre se a realidade é verdadeira ou falsa. Podemos sempre
contar com a ideia de que a realidade é algo que não depende da minha opinião,
ela simplesmente existe do jeito que é.
Desvantagens: A
grande desvantagem do realismo é que muitas pessoas não questionam sobre a
realidade do mundo em que vivem, e por pensarem assim, fazem o filósofo que
existe dentro de nós dormir, pois, se podem existir interpretações diferentes
sobre o mundo, pode ser que algumas delas estejam erradas
Agora, falaremos sobre as vantagens e desvantagens do
relativismo:
Vantagens:
Podemos a partir das várias interpretações do que seja a realidade, pensar
sobre elas ter nossa opinião melhor formada.
Desvantagens:
Se ficássemos presos a postura relativista, que diz que tudo só depende da
nossa interpretação, do nosso modo de ver as coisas, não teríamos nem filosofia
nem ciência. Ficaríamos sempre dizendo que as coisas podem não ser reais e
pararíamos por aí.
Você pode estar se perguntando: “e
agora, que pensamento eu devo seguir, o realismo ou o relativismo”?
Podemos responder dizendo que o
relativismo serve para que a gente não fique preso a somente uma ideia de
realidade, tal como Truman do filme “O Show de Truman” e o personagem do mito
da caverna de Platão tiveram ANTES de assumir a postura crítica e desconfiar de
que a realidade pudesse ser diferente. O relativismo deve ser o Primeiro momento da atitude filosófica pois
percebendo que a realidade pode ter várias interpretações, tentaremos encontrar
uma que seja mais verdadeira.
Para exemplificar
melhor aquilo que nós tratamos acima, façamos uma análise, a partir do resumo
dos filmes “O show de Truman” e do “Mito da Caverna” da Platão que foi estudado
por você no 6° ano.
Resumo do Filme o Show de Truman:
Um homem (Truman Burbank) tem sua
vida inteira filmada e transmitida ao vivo pela TV, 24 horas por dia via
satélite para todo o mundo, desde o seu nascimento. O filme começa a partir do
episódio 10.909 desde o lançamento do Show. É o 30º ano ininterrupto (sem
interrupções) de transmissão do "show" da vida de Truman Burbank como
a primeira experiência de um "show real", pois Truman desconhece ser
um personagem. Truman faz o “papel” de um corretor de seguros, é casado, e
possui um amigo de infância, que sempre chega a sua casa com cervejas. Todos os
dias cumprimenta seus vizinhos, da mesma forma, vai ao jornaleiro comprar
revistas para sua mulher, encontra dois senhores que sempre prometem procurá-lo
na seguradora.
Tudo acontece num grande estúdio, na verdade o maior
estúdio cinematográfico do mundo, que ao lado da Muralha da China é a única
construção humana visível do espaço, é uma ilha chamada Seahaven: as casas, as
ruas, os automóveis, o céu, o mar, a lua, o anoitecer, e a chuva, tudo se passa
dentro de uma enorme cúpula, mas Truman não conhece esses limites: ele nunca
viajou, nunca saiu de sua cidade, nunca ultrapassou suas margens. Cerca de 5
mil câmeras, filmam cada movimento de Truman, milhares de pessoas trabalham dia
e noite para que o show funcione com total verossimilhança com a realidade. É
um mundo dentro de outro mundo. O criador do programa é Christof. O programa é
transmitido sem nenhuma interrupção, nem mesmo intervalo publicitário. A
publicidade é feita de maneira diferente, explica Christof em uma das poucas
entrevistas que concede que “tudo está à venda” o que os atores comem, roupas,
até mesmo as casas em que vivem.
O entrevistador continua a
entrevista com Christof e pergunta “por que Truman nunca pensou até agora em
questionar a natureza do mundo em que vive?” Christof reponde dizendo que
“aceitamos a realidade do mundo tal qual ela nos é apresentada, Truman pode ir
embora quando quiser. Se tivesse algo mais que uma mínima ambição, se estivesse
absolutamente decidido a descobrir a verdade, não poderíamos impedi-lo.
Truman prefere a sua cela. O Show de Truman é uma variação muito interessante
do Mito da Caverna de Platão, mas difere da alegoria de Platão em que apenas um
prisioneiro se liberta para abandonar as sombras da caverna e conhecer o mundo
real, no filme há apenas um prisioneiro, e os demais atores que entram e saem
dela.
Para refrescar nossa memória, vejamos um resumo do
“Mito da Caverna de Platão”.
Resumo do “Mito da Caverna”
O mito fala sobre prisioneiros que desde o nascimento
que vivem presos em correntes numa caverna e que passam todo tempo olhando para
a parede do fundo que é iluminada pela luz gerada por uma fogueira. Nesta
parede são projetadas sombras de estátuas representando pessoas, animais,
plantas e objetos, mostrando cenas e situações do dia-a-dia. Os prisioneiros
ficam dando nomes às imagens (sombras), analisando e julgando as situações.
Vamos imaginar que um dos prisioneiros fosse forçado a
sair das correntes para poder explorar o interior da caverna e o mundo externo.
Entraria em contato com a realidade e perceberia que passou a vida toda
analisando e julgando apenas imagens projetadas por estátuas. Ao sair da
caverna e entrar em contato com o mundo real ficaria encantado com os seres de
verdade, com a natureza, com os animais e etc. Voltaria para a caverna para
passar todo conhecimento adquirido fora da caverna para seus colegas ainda
presos. Porém, seria ridicularizado ao contar tudo o que viu e sentiu, pois
seus colegas só conseguem acreditar na realidade que enxergam na parede
iluminada da caverna. Os prisioneiros vão o chamar de louco, ameaçando-o de
morte caso não pare de falar daquelas ideias consideradas absurdas.
O que Platão quis
dizer com o mito?
Os seres humanos tem uma visão distorcida da realidade.
No mito, os prisioneiros somos nós que enxergamos e acreditamos apenas em
imagens criadas pelas novelas, conceitos e informações que recebemos durante a
vida sem pensar sobre o que é a realidade de fato. A caverna simboliza o mundo,
pois nos apresenta imagens que não representam a realidade. Só é possível
conhecer a realidade, quando nos libertamos destas influências culturais e
sociais, ou seja, quando saímos da caverna.
A fala do diretor do Show de Truman, Christof, está de
acordo com a ideia do Mito da Caverna: poucos são os inclinados a distinguir
entre o mundo das aparências e o mundo das realidades autênticas e poucos são
os que se perguntam se vivem uma espécie de jogo de fantoches. Podemos
imaginar, que se Platão visse o filme ele diria que Truman deixando de
considerar como reais as sombras que passam na parede (ou seja, o mundo de
mentirinha que ele vive) e tivesse podido descobrir os objetos que produzem
estas sombras, teria saído da caverna e ido em direção da verdade.
Voltando ao assunto Realismo e Relativismo, podemos
dizer que Truman e o homem que saiu da caverna, representam o filósofo que, num
primeiro momento abandonam aquela postura realista ingênua (que acredita em
tudo o que está ao seu redor) para, abraçar a postura relativista por um
momento, analisar e as diferentes interpretações e tentar ir além daquilo que é passado pelo
realismo para encontrar uma realidade que seja mais verdadeira.
Bibliografia
FEITOSA, Charles. Explicando a filosofia com arte. 2.ed.
Rio de Janeiro: Ediouro, 2009
(Resumo
sobre o Show de Truman)
Indicação de Música:
Metamorfose
Ambulante de Raul Seixas
Indicação de obras de arte: As pinturas
de M.C. Escher
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